A Lenda de Korra
- ramonbetzler
- 17 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Está série acabou sendo feita de maneira diferente que A Lenda de Aang. Durante a produção, as temporadas foram sendo aprovadas uma de cada vez e isso afetou um pouco o planejamento da série, tornando a história das temporadas relativamente isoladas. Leia a seguir a crítica de todas as temporadas de A Lenda de Korra.

1ª temporada
O 1º 'livro' já começa mostrando que a nova série seria bastante diferente de A Lenda de Aang e que essa decisão foi consciente por parte dos criadores. Apesar da grande mudança na estética visual, as regras do universo evoluem de maneira lógica em relação ao que aconteceu no final da série anterior, mas isso não quer dizer que os criadores não tenham tomado decisões corajosas em relação à história. Provavelmente seria muito mais cômodo criar uma versão feminina de Aang, mas definitivamente eles seguiram em um caminho muito mais interessante.
Talvez por causa do grande salto temporal, a história desta temporada precisou fazer várias conexões com A Lenda de Aang que são importantes para o entendimento do contexto, porém, em alguns momentos, o roteiro se apoia demais nos personagens antigos em vez de desenvolver os novos. Dessa forma, a história fica em um meio termo entre uma sequência direta dos acontecimentos da outra animação e algo novo no qual os novos personagens são o verdadeiros centro da ação. Por isso, infelizmente, esta temporada ainda não entrega os personagens com a solidez necessária para sustentar uma série inteira.
No entanto, esse problema não chega a atrapalhar a experiência. Os novos personagens, mesmo que um pouco enfraquecidos pela presença dos antigos, ainda entretém bastante e tem dinâmicas entre si que são uma evolução natural em comparação com a série anterior. Outro elemento que teve grande evolução foi a animação e a "coreografia" das lutas. Aqui é alcançado um nível bem avançado, correspondente à diferença de idade das animações. Novamente, parte da "construção" do mundo é feita durante cenas de luta que trabalham muito bem junto ao roteiro.
Todavia, essa elegância ao contar a história nem sempre está presente e há alguns momentos de longa exposição que não necessariamente contribuem para os personagens centrais da trama. Nesse mesmo sentido, vai a concepção do vilão que tem uma premissa tão interessante quanto qualquer vilão de A Lenda de Aang, mas que acaba não entregando todo seu potencial.
Entre erros e acertos, a primeira temporada de A Lenda de Korra apresenta uma evolução muito interessante do universo de Avatar. Mesmo com passagens nas quais na há a real sensação de que os personagens conquistaram por si próprios os feitos, esta 1ª parte entrega ao menos uma promessa para o futuro.

2ª temporada
No 2º 'livro' a história parece se estruturar melhor e tomar um rumo, com um pouco mais de planejamento de longo prazo. De certa forma, o enredo recomeça do zero, colocando os personagens em dilemas bem semelhantes àqueles explorados na 1ª temporada. No entanto, essa temporada é bem mais criativa e corajosa que a primeira, além de conseguir mostrar real crescimento dos novos personagens, deixando-os de fato no centro da história.
O mais interessante é que a animação consegue fazer isso sem deixar de ser uma sequência de A Lenda de Aang. Durante toda a temporada, acontece uma expansão interessantíssima do universo ao mesmo tempo em que personagens como Korra, Mako, Bolin e Tenzin são muito bem desenvolvidos.
Mesmo que esta temporada apresente frequentemente os mesmos dilemas da anterior, nela a questões com as quais os personagens tem que lidar são resolvidas através de aprendizado e de decisões que realmente garantem agência para os protagonistas, com destaque para Korra e para Jinora, filha de Tensin e neta de Aang. Autoconhecimento talvez seja a palavra que resume melhor a jornada dos personagens neste 'livro'.
Potencializados por uma história épica e inspiradora, a animação e todos os elementos artísticos desta temporada alcançam um nível impressionante igualado talvez somente pelo último livro de A Lenda de Aang. Como dito antes, personagens e mitologia andam junto de uma maneira muito interessante que os levam a um final de temporada épico e emocionante.

3ª temporada
A transição da 2ª temporada para esta é muito bem feita. A história, os personagens e o universo progridem de maneira a passar a forte sensação de que se assiste a partes conectadas de uma mesma saga.
O enredo dinâmico é o mais imprevisível até aqui. Isso se deve principalmente aos vilões que são muito competentes e ameaçadores ao buscar seus objetivos, exigindo assim o máximo dos heróis. A missão desses antagonistas é semelhante àquela do vilão da primeira temporada, mas não soa repetitiva, além de ser absolutamente crível dentro de uma das trama que acontece por trás de A Lenda de Aang e A Lenda de Korra.
Dentro deste contexto, as relações entre os personagens tornam-se mais complexas e muitos novos personagens são introduzidos, dando mais vida e realismo para o universo. Nesta temporada, também fica mais clara a estrutura política do mundo. Através de mais conexões com o passado, sem que esta tirem o foco do futuro, a temporada solidifica definitivamente a ponte entre as duas séries.
Em um 'livro' no qual as lutas chegam a uma maturidade muito grande e o legado da série anterior é respeitado sem que seja um obstáculo para que os heróis avancem em suas jornadas, a série não repete o mesmo brilhantismo da 2 ª temporada, mas faz um trabalho muito competente de desenvolvimento dos personagens e de consolidação do universo.

4º temporada
A transição da 3ª para esta temporada é diferente de qualquer outra durante as duas séries. Uma longa passagem de tempo traz algumas coisas boas, mas também ruins. Os 3 anos que separam as 2 temporadas levam os personagens a situações inesperadas e desenvolvimentos que não seriam possíveis com as transições usuais do desenho. Por outro lado, uma das coisas ruins que isso acabou trazendo foi uma vilã pouco interessante e quase desconhecida que, de certa forma, parece surgir do nada e não contribui muito para arcabouço do universo e para história geral da série. Uma vilã que definitivamente não soa como o melhor vilão possível para fechar a série.
Apesar desse problema, a nova vilã serve como um espelho interessante para a protagonista e contribui para seu aprendizado. Korra, neste 'livro', tem talvez sua jornada mais interessante. A heroína vive uma espécie de crise existencial causada por um mundo em que muitas vezes os poderes do Avatar não mais são suficientes para resolver todas as questões políticas e sociais. A complexidade do mundo exige que ela e seus companheiros tornem-se adultos de fato, algo inédito tanto para esta série quanto para A Lenda de Aang.
Neste sentido, também é possível dizer que esta temporada fecha o ciclo da maior parte da grande quantidade de personagens de forma satisfatória. A trajetória de alguns deles chega até a ser melhor do que o esperado e a de alguns poucos acaba deixando a desejar, mas nada que consiga realmente incomodar.
Talvez por causa da forma que a série foi produzida, o final da série acaba não sendo tão épico quanto o final de A Lenda de Aang. Mesmo assim, a jornada dos protagonistas foi muito interessante, principalmente por causa da coragem dos roteiristas em fazê-los diferentes dos protagonistas da série original. Porém, isso não significa que não existam alguma pequenas falhas relativas principalmente ao ritmo da temporada e ao término da história. A 4ª temporada de A Lenda de Korra fecha bem a história, mas com certeza não é o ápice de qualidade da série. Esse provavelmente aconteceu na 2º livro.

Considerações finais

É uma pena que a trajetória não tenha sido ascendente, mas ainda assim A Lenda de Korra fez contribuições interessantíssimas para o universo de Avatar e modernizou os mitos estabelecidos na série original. Talvez, o seu feito mais importante tenha sido contar uma história que aos pouco foi se tornando cada vez mais independente e relevante por si mesma, tarefa que não era nada fácil.










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